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Noosfera e a convergência cultural de pensamento

In Espiritualidade
março 15, 2023
Seria a Noosfera um propulsor para um nível mais avançado da consciência?

Em 1938, o francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) escreveu em seu livro, “The Phenomenon of Man”, sobre a existência de um “um tecido vivo de consciência” envolvendo a Terra, a Noosfera.

A rigor, o termo ‘noosfera’ não teria sido criado por Teilhard. O conceito teria sido criado por Vladimir Ivanovich Vernadsky (1863-1945), um geoquímico russo que defendia a existência de uma sucessão de fases de evolução da Terra, iniciando pela Geosfera (matéria inanimada), seguindo para a Biosfera (vida biológica) chegando a sua terceira fase, a Noosfera (vida inteligente).

Na teoria original de Vernadsky, assim como o surgimento da vida transformou a geosfera, o surgimento da cognição humana teria transformado a vida em nosso planeta.

Seria a Noosfera um prenuncio da nossa internet?

Teilhard de Chardin foi considerado por muitos como um pensador do futuro. Na visão do paleontólogo francês a Noosfera seria o resultado da soma de todas as interações mentais de todos os seres vivos.

Não seria esta teoria, apesar de suas particularidades, uma vaga previsão sobre o que seria a internet décadas depois?

O escritor Donald Dulchinos argumenta em seu livro “Neurosphere: The Convergence of Evolution, Group Mind, and the Internet” que a World Wide Web funcionaria como um sistema nervoso central do nosso planeta.

“Como se o hype comercial não bastasse, o impacto econômico da Internet é menor do que o efeito que terá em nossas vidas sociais e pessoais à medida que se torna onipresente. A Internet transformará muitas das coisas essenciais que nos tornam humanos – comunicação, cooperação, pensamento e, acima de tudo, nossa busca por significado”, argumenta Dulchinos.

A verdade é que não faltam especialistas e filósofos que argumentam que a internet representaria a materialização da noosfera de Teilhard de Chardin.  À medida que a rede mundial de computadores começou a se desenvolver, vários pontos de suas obras começaram a chamar a atenção.

Dentre elas, destaca-se a sua ideia de que a característica-chave para o processo evolucionário da humanidade seria a convergência cultural de pensamento, “transbordando abertamente as modalidades anatômicas para se espalhar, e talvez até mesmo transplantar, seu impulso principal para as zonas da espontaneidade psíquica, tanto individual quanto coletiva”.

E assim, esta tal convergência ocorreria em uma última camada no nível social, agregando em nossas vidas as tradições e a memória coletiva. Este seria o começo da unidade mental da humanidade, princípio básico da noosfera.

O ser humano como co-criador do universo

O avanço da internet tem impulsionado o surgimento de uma sociedade cada vez mais interconectada. E na visão de Dulchinos, todo este processo poderia ser entendido como um propulsor para um nível mais avançado da consciência.

Bárbara Marx Hubbard, futurista e escritora, vislumbrava a formação de uma esfera de consciência ao redor da Terra, que permitiria ao homem crescer e assumir seu papel como co-criador do universo.

Hubbard se encantou pela forma como Teilhard de Chardin escrevia sobre um novo tipo de ser humano, atraído pelo futuro. Como uma embaixadora de suas ideais, ela se empenhou em refletir sobre o surgimento da noosfera e do (re)nascimento da humanidade.

Segundo a futurista, estaríamos em uma condição perigosa e ao mesmo tempo natural: Ainda não estaríamos totalmente acordados, mas estaríamos no caminho de nos tornamos conscientes de que, se não mudarmos nosso comportamento, seguiremos inevitavelmente rumo a autodestruição. Hubbard acreditava que os seres humanos estariam se aproximando de uma encruzilhada evolutiva. “É óbvio que, se continuarmos fazendo o que temos feito, incluindo superpovoar, poluir, lutar com esse grau de violência, chegaremos a um ponto em que poderemos realmente destruir nossos próprios sistemas de suporte à vida”, diz ela.

Ela acreditava que, se quisermos enfrentar nossos desafios, devemos primeiro ir além de nossa existência egóica.  “A humanidade está assim numa encruzilhada. Ou podemos nos unir conscientemente em colaboração com os sistemas da Terra, ou podemos continuar a seguir padrões inconscientes de conflito e consumo. Se escolhermos coletivamente a colaboração consciente, experimentaremos o ‘caminho gentil’, uma visão positiva do futuro em que a humanidade compreende seu propósito e seu poder e faz uma transição relativamente suave para o próximo estágio de sua evolução”.  

Seria esta uma simples ideologia positivista? Nos dias de hoje ainda pode parecer impossível para muitos, mas este despertar já tem sido foco de discussão de boa parte de nossa sociedade. Ainda é difícil de prever o alcance e o impacto destas ideias, principalmente por parte de nossas lideranças, mas o “caminho gentil” de Barbara Hubbard já parece ser cada vez mais necessário. Que assim seja!

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Editorial Faça Parte do Futuro