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Spinoza e a sua visão de Deus

In Vanguardistas
março 22, 2023
Suas ideias inspiraram pensadores modernos como Albert Einstein

Baruch Spinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês, de origem judia e portuguesa, profundamente influenciado pela filosofia dos estoicos da Grécia e Roma antiga.

Os Princípios da Filosofia Cartesiana (1663) foi o primeiro livro publicado por Spinoza, a única obra que levaria o seu nome real. Nos seguintes, Spinoza usou pseudônimos para publicar suas obras, incluindo o controverso Tractatus Theologico-Politicus (1670), traduzido como Tratado Teológico-Político. Sua obra mais influente, um livro escrito inteiramente em latim chamado Ética (1677), foi publicado postumamente naquele mesmo ano.

Spinoza não era ateu, mas sim uma espécie de anti-teólogo. Para ele, Deus existia como uma soma das leis naturais, ao invés de uma entidade específica. Spinoza criticava as escrituras tanto na tradição judaica quanto na cristã por nos colocarem à mercê de dogmas considerados por ele irreais.

O filósofo holandês rejeitava as ideias do judaísmo e do cristianismo em relação a existência do bem e do mal. Em vez disso, ele acreditava que a natureza da mente humana tende a categorizar as coisas que melhoram o seu bem-estar como boas.

Seria a liberdade uma ilusão?

Spinoza acreditava que o livre-arbítrio era uma ilusão. De acordo com seus conceitos, o livre-arbítrio não diz respeito à liberdade de escolher entre o ponto A e o ponto B, mas a sabedoria para entender os acontecimentos que ocorrem de acordo com a suas necessidades.

Para ele, existiria um vínculo direto entre o livre-arbítrio e o conhecimento: uma pessoa sábia seria aquela que sempre se esforça para entender antes do tempo “por que” e “como” as coisas são.

Tal afirmação seria baseada na ideia de que como tudo procede de Deus, tudo também seria determinado por Ele. Como efeito, na perspectiva do filósofo, só seria livre o homem que sabe dominar suas emoções e conviver com elas, escolhendo sempre o bem comum.

Nossa ilusão de liberdade estaria atrelada ao fato de termos consciência da nossa vontade e, assim, acharmos que é ela que nos guia. Entretanto, no conceito de Spinoza, quem determina essa vontade é Deus. Agimos sempre ‘dentro’ das possibilidades permitidas por Ele.

Nossa liberdade estaria sempre restrita aos limites de nossa própria natureza, conforme a criação divina. Tudo que escolhemos fazer, escolhemos porque Deus assim permitiu.

“Quando um cão atrelado a uma carroça quiser acompanhá-la, ele é puxado por ela e avança, fazendo com que seu gesto espontâneo coincida com a necessidade. Mas se o cão decidir não se mexer, o movimento da carroça o obrigará a segui-la, de qualquer maneira. O mesmo acontece com os homens: mesmo que não queiram, eles são forçados a obedecer o que o destino lhes reservou.”

Estas são as palavras de Sêneca, principal representante do estoicismo, a doutrina filosófica fundamentada nas leis da natureza criada no século IV a.C., uma referência tão presente nos preceitos de Spinoza.

Einstein e o Deus de Espinoza

As ideias de Spinoza foram consideradas muito radicais em sua época, mas mais tarde acabaram influenciando pensadores modernos como Albert Einstein.

Certa ocasião ao ser questionado se era ateu, Einstein respondeu dizendo: “Acredito no Deus de Espinoza, que se revela num mundo regrado e harmonioso, não em um Deus que se preocupa com o destino e os afazeres da humanidade”.

O físico alemão costumava falar sobre uma “religião cósmica”, onde as crenças relacionadas seriam difíceis de serem descritas para alguém que estaria totalmente sem elas. Na visão do pai da teoria da relatividade geral, Deus seria o próprio Universo.

No centro de sua religiosidade estava, em suas palavras, um “encantador espanto com a harmonia da lei natural, que revela uma inteligência de tal superioridade que, comparada a ela, todo o pensamento e ação dos seres humanos são um reflexo totalmente insignificante”.

No contexto das obras de Spinoza ninguém nasceria livre, se tornaria livre. Seria esta uma constatação simplesmente poética ou um grande exercício existencial?


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