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Vivemos em um universo paralelo?

In Mundo Incerto
fevereiro 21, 2023
Só podemos escolher uma das opções que a vida oferece o tempo todo?

O conceito de multiverso decolou quando teorias científicas modernas começaram a discutir sobre a existência de outros universos. O termo é frequentemente usado para descrever a ideia de que além de um único universo observável, podem existir outros.

O tema ganhou destaque também nos cinemas. ‘Tudo em o Todo Lugar ao Mesmo Tempo’, filme dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conta a história de Evelyn (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa  afundada em seus problemas pessoais e financeiros que viaja entre as suas infinitas versões dela mesma. Outro exemplo é o sucesso da Marvel, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” lançado também em 2022.

Mas o que a ciência diz a respeito?

Segundo diferentes teorias cientificas, o espaço e o tempo que podemos observar não são a única realidade. “A realidade existe independentemente de nós”, segundo o físico da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Andrei Linde.

Agora imagine: E se em algum lugar, em outro universo semelhante ao nosso, uma versão de nós mesmos experimentasse uma vida completamente diferente, em um mundo de infinitas possibilidades?

Isso seria possível de acordo com algumas hipóteses sobre a matemática do universo, que argumentam que, se existe a possibilidade de alguma coisa acontecer, ela realmente vai acontecer.

Em termos práticos, significa que cada possibilidade de decisões na nossa vida também pode se tornar real. E para que todas as infinitas possibilidades aconteçam, infinitos universos precisam existir.

O início de tudo a partir do nada

A última pesquisa do físico Stephen Hawking, publicado na última edição do Journal of High Energy Physics, aponta que nosso universo pode ser apenas um de muitos outros parecidos com ele. A teoria seria uma solução de paradoxo cósmico criado pelo próprio cientista, indicando também um caminho para astrônomos em busca de indícios da existência de universos paralelos.

Em 1980, o cientista, junto com o físico americano James Hartle, elaborou uma nova ideia sobre o início do Universo. A proposta de Hartle e Hawking usava a mecânica quântica para explicar como o Universo teria iniciado a partir do nada.

Conforme os cientistas desenvolveram a ideia, chegaram à hipótese que a partir do Big Bang o Universo se formou como um vasto e complexo holograma, de tal forma que podem existir outros universos muito similares ao nosso.

Alguns deles, segundo a teoria Hartle-Hawking, seriam bem parecidos com o mundo que conhecemos. Mas outros universos teriam diferenças pontuais – uma Terra em que os dinossauros não foram extintos, por exemplo. Pode parecer algo improvável, mas as equações elaboradas nessa teoria tornam esses cenários possíveis.

Cosmologia inflacionária

O trabalho final de Hawking é fruto de uma pesquisa de 20 anos. Eles recorreram a novas técnicas matemáticas para estudar outro conceito chamado de Teoria das Cordas, uma tentativa de unificar a Teoria da Relatividade de Einstein e a Mecânica quântica.

Talvez a ideia mais aceita cientificamente tenha partido deste trabalho da dupla, e que ficou conhecido como cosmologia inflacionária, considerado um multiverso de Nível 2. Segundo esta noção, momentos após o Big Bang o universo se expandiu de maneira rápida e exponencialmente.

A inflação cósmica explica muitas das propriedades observadas do universo, como sua estrutura e a distribuição das galáxias. Uma das previsões da teoria é que a inflação poderia acontecer repetidamente, talvez infinitamente, criando uma constelação de universos-bolha.

No meio dessa expansão, algumas áreas continuaram a inflar e outras pararam por completo, formando bolhas de espaço estático. Assim, o universo seria formado por diversas bolhas, que formam um multiverso.

Mas nem todas essas bolhas terão as mesmas propriedades que as nossas – podem ser espaços onde a física se comporta de maneira diferente, mas todos existem além do que podemos observar diretamente.

Então, o Multiverso de Nível 2 seria um conjunto de universos incomunicáveis – cada um deles é infinito, apesar de ocupar um espaço finito se visto de fora.

Na opinião de muitos especialistas, essa teoria sugere boas soluções para vários outros problemas misteriosos.

Mas quais são os outros conceitos que se aplicam em torno do multiverso?

Mas existe uma teoria alternativa que está ganhando cada vez mais atenção. É a chamada Interpretação dos Muitos Mundos, proposta por Hugh Everett, em 1957.

Segundo Everett, a onda nunca entra em colapso. Todas as possibilidades de localização da partícula seriam igualmente verdadeiras, criando, assim, a cada instante, uma infinidade de bifurcações quânticas, cada uma dando origem a um universo paralelo, onde vários cenários estão se desenrolando em realidades ramificadas.

Esta hipótese é, sem dúvida, a preferida das obras de ficção científica, tendo uma relação direta com a mecânica quântica.

Neste caso, existem milhões de versões de você mesmo, cada uma vivendo em um universo diferente. A cada momento que você toma uma decisão, existe algum outro “você” que tomou a decisão oposta, e que está por aí, em algum universo paralelo.

Esse “lugar”, essa soma de todos esses universos paralelos quânticos, é conhecido como Espaço Hilbert, ou Multiverso de Nível 3.

Até agora a Interpretação de Copenhage, proposta por Niels Bohr e Werner Heisenberg, é a mais conhecida quando se fala em mecânica quântica. A teoria quântica afirma que o observador de um fato influencia em como esse fato é percebido.

Segundo essa interpretação, antes de ser observada, cada partícula se comporta também como onda, podendo estar em vários locais ao mesmo tempo.

Quando observamos uma partícula/onda, ela colapsa e ‘escolhe’ um único local para se mostrar como partícula. Mas antes de observá-la, só podemos estimar uma determinada probabilidade desta partícula estar em cada um desses lugares.

Então, seria como se o simples ato de observá-la a obrigasse a escolher um único local para estar. Entretanto, quando não estivesse sendo observada, ela poderia seguir um caminho sem uma localização determinada.

No famoso experimento do gato de Schrödinger, por exemplo, temos um gato dentro de uma caixa totalmente fechada e incomunicável, e um único átomo decide se o gato vai morrer envenenado ou continuar vivo. Esta experiência procura ilustrar a interpretação de Copenhague da mecânica quântica.

Segundo a interpretação da teoria de BohrHeisenberg, o gato está em um estado de sobreposição quântica, ao mesmo tempo vivo e morto, e seu futuro só será decidido quando a caixa for realmente aberta.

Na interpretação de Everett, no entanto, o universo se separa em dois, em um dos universos o gato está vivo, e no outro, ele está morto. Assim, uma vez separados, cada universo continua seu próprio caminho e nunca mais interage com os outros.

Mas, e aí?

Toda essa discussão em torno de universos paralelos pode não redefinir o que é a realidade, mas serve para questionar como percebemos o que é real. Afinal de contas, a realidade observada por um indivíduo pode não ser a mesma observada por outro.

Até aqui todos concordamos, certo?

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Editorial Faça Parte do Futuro